Nova pesquisa premiada na Europa busca substituir o uso de camundongos em testes de qualidade de soros contra o veneno de cobras do gênero Bothrops. O estudo, conduzido pela bióloga Renata Norbert do Instituto Nacional de Controle da Qualidade em Saúde (INCQS) da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), foi reconhecido pela Sociedade Europeia para Alternativa de Testes em Animais e recebeu menção honrosa de uma organização científica britânica.
O foco da pesquisa é o gênero Bothrops, serpentes popularmente conhecidas como jararacas, cotiaras e urutus, responsáveis pelo maior número de acidentes com cobras no Brasil. Dados do DataSUS indicam que, somente neste ano, foram registrados 12 mil acidentes causados por essas serpentes.
De acordo com Renata Norbert, o INCQS busca a substituição de animais em testes desde 2001, não apenas para evitar o sofrimento dos roedores, mas também porque a pesquisa demonstrou que os novos métodos são mais rápidos e econômicos.
Atualmente, a produção de antiveneno envolve diversas etapas de controle de qualidade, inclusive testes no INCQS que utilizam grande quantidade de camundongos antes da liberação do produto para o Programa Nacional de Imunização (PNI).
A pesquisa alcançou a fase de pré-validação, inédita no mundo para antivenenos. O estudo se encontra em sua fase final, que consiste na reprodução dos resultados em outros laboratórios para confirmar a robustez do método.
A metodologia proposta substitui os camundongos por células Vero, cultivadas em laboratório. As células são fixadas em placas e expostas a uma mistura de soro e veneno. Se as células permanecerem intactas, o soro é considerado aprovado por ter inibido a ação do veneno. Caso contrário, o soro é reprovado.
O objetivo é submeter os resultados à farmacopeia brasileira para que o método seja implementado na prática. Para isso, serão criados kits de ensaios para que outros laboratórios possam replicar a metodologia e comparar os resultados. Os dados serão analisados estatisticamente para verificar a reprodutibilidade do método.
A bióloga espera que, a partir de março de 2026, o projeto possa ser colocado em prática. Em dezembro deste ano, Renata Norbert se reunirá com produtores e outros interessados para expandir o conhecimento e tentar levar o projeto para outros países, já que as serpentes Bothrops também existem em regiões como a Costa Rica.
A pesquisadora destaca que o método alternativo pode reduzir os custos em até 69% em comparação com o uso de camundongos. Os testes com animais são demorados, dolorosos e, ao final, os animais são sacrificados. O novo método, segundo ela, é simples e rápido, com resultados em uma semana, enquanto o processo com camundongos leva pelo menos um mês.
As serpentes Bothrops são responsáveis por cerca de 90% dos casos de envenenamento por cobras em humanos no Brasil. Além do risco de óbito, o veneno desses animais pode causar hemorragias, necroses e até amputações. O antiveneno e os testes de qualidade são realizados por unidades do Sistema Único de Saúde (SUS).
Fonte: agenciabrasil.ebc.com.br