Em um ato histórico, cerca de 500 mil pessoas se reuniram em Brasília na quinta-feira para a 2ª Marcha Nacional das Mulheres Negras por Reparação e Bem-Viver. O evento, marcado pela presença de uma mulher negra inflável gigante de 14 metros com a faixa presidencial ostentando a frase “Mulheres Negras Decidem”, reuniu caravanas de todo o país na Esplanada dos Ministérios.
Cláudia Vieira, do Comitê Nacional da Marcha das Mulheres Negras, destacou a importância do evento para o reconhecimento e valorização da população negra, tanto no Brasil quanto no mundo. “A partir desse mosaico, a gente apresenta para o país, para o mundo e para o Estado brasileiro, para que entendam, de uma vez por todas, que é importante, necessário, é dever e direito olhar para a população negra”, afirmou.
A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, compareceu à marcha acompanhada das deputadas Talíria Petrone e Benedita da Silva. Em seu discurso, Franco ressaltou o papel do ministério como uma ponte entre o movimento negro e o Estado.
O luto também esteve presente, com a lembrança constante de Marielle Franco, irmã da ministra, assassinada em 2018. Luyara Franco, filha de Marielle e diretora executiva do Instituto Marielle Franco, reafirmou a importância da presença das mulheres negras na política e na sociedade. A mãe de Anielle e Marielle, Marinete Silva, cofundadora do instituto, declarou que o ato representa a recusa da população negra em ser silenciada.
Um dos momentos mais impactantes foi a exibição de um tapete com fotos de vítimas da violência em favelas do Rio de Janeiro, denunciando a violência contra jovens negros. Daniela Augusto, do Movimento Mães de Maio na Baixada Santista, denunciou o Estado brasileiro como o principal violador dos direitos da população negra. “Historicamente, no Brasil, a herança do processo de escravização é a perseguição, o controle e a eliminação de corpos negros”, declarou.
A marcha também abordou a questão da representatividade, com manifestantes pedindo a indicação de uma mulher negra para a vaga no Supremo Tribunal Federal (STF). A professora Maria Edna Bezerra da Silva, da Universidade Federal de Alagoas, defendeu o aumento do número de docentes negros nas universidades.
Homens também marcaram presença na marcha, apoiando a luta por igualdade de gênero. Leno Farias, de um povoado de terreiro do Ceará, ressaltou a importância do matriarcado em sua vida e a necessidade de combater a violência contra as mulheres.
Mulheres quilombolas reivindicaram o reconhecimento de seus territórios e a valorização de seu papel como guardiãs da biodiversidade. Aparecida Mendes, do território quilombola Conceição das Crioulas, em Pernambuco, destacou a contribuição de sua comunidade para a preservação cultural, conservação ambiental e segurança alimentar.
O encerramento da 2ª Marcha Nacional das Mulheres Negras reafirmou a organização das mulheres afro-brasileiras, afro-latinas e afro-caribenhas na luta por uma vida sem violência, pela igualdade de direitos e oportunidades. As participantes deixaram claro que suas pautas são inegociáveis para a construção de um futuro mais justo e democrático.
Fonte: agenciabrasil.ebc.com.br

