O deputado federal Glauber Braga (PSOL-RJ) iniciou uma greve de fome e passou a noite acampado no plenário 5 da Câmara dos Deputados, após o Conselho de Ética aprovar o parecer que recomenda sua cassação por quebra de decoro parlamentar. A votação, ocorrida na quarta-feira (10), terminou com 13 votos a favor e 5 contra a cassação do mandato.
Braga é acusado de ter agredido um militante do Movimento Brasil Livre (MBL) que teria ofendido sua mãe, mas o parlamentar afirma ser alvo de perseguição política por denunciar o Orçamento Secreto, esquema de distribuição de verbas sem transparência no Congresso.
Protesto radical contra o sistema
Sem se alimentar desde a noite de terça-feira (9), o deputado afirmou que sua atitude é uma reação política contra o que chama de tentativa de silenciamento. “Estou há mais de 30 horas ingerindo apenas líquidos. Não serei derrotado por Arthur Lira e pelo Orçamento Secreto. Vou às últimas consequências”, declarou nas redes sociais.
Segundo sua assessoria, Glauber está sendo monitorado por médicos, com pressão arterial estável e pesando 91,7 kg. Ele consumiu água e isotônico nesta quinta-feira.
Suporte político e embates nos bastidores
A deputada Luiza Erundina (PSOL-SP) chegou a anunciar apoio à greve de fome, mas foi convencida por aliados a desistir por razões de saúde. Já o PT e o PSOL anunciaram obstrução dos trabalhos na Câmara em protesto contra a decisão do Conselho de Ética.
O líder do PT na Casa, Lindbergh Farias (RJ), pediu que o colégio de líderes reavalie a situação: “Estamos criando uma crise desnecessária. Temos um deputado em greve de fome dentro de uma comissão”, alertou.
Cassação e acusações de manipulação política
Braga diz que a punição é desproporcional em comparação a outros casos de quebra de decoro e acusa o ex-presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e o relator do processo, deputado Paulo Magalhães (PSD-BA), de orquestrar a cassação como retaliação às críticas ao Orçamento Secreto.
Lira negou qualquer envolvimento e afirmou que a denúncia partiu do partido Novo, não dele. Em nota, declarou: “Refuto veementemente essa acusação ilegítima. Se houver insinuações sem provas, tomarei as medidas judiciais cabíveis”.
Próximos passos
O parlamentar promete recorrer à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Caso a CCJ mantenha o parecer, a cassação ainda precisará passar pelo plenário da Câmara, onde os deputados votarão a decisão final.
A crise envolvendo Glauber Braga reacende o debate sobre liberdade de expressão, perseguição política e uso indevido de instrumentos parlamentares no Brasil. O caso também volta a colocar os holofotes sobre o polêmico Orçamento Secreto, mecanismo amplamente criticado por falta de transparência na destinação de recursos públicos.