Nesta quinta-feira (27), movimentos sociais e entidades de direitos humanos realizaram o ato “Ocupa Rubens Paiva: Tortura Nunca Mais” em frente ao prédio que abrigou o antigo DOI-Codi, no bairro da Tijuca, zona norte do Rio de Janeiro. O local, atualmente ocupado pelo 1º Batalhão de Polícia do Exército, foi um dos principais centros de tortura e repressão da ditadura militar, instaurada após o golpe de 1964.
O ato marca também os 10 anos de instalação do busto de Rubens Paiva, deputado federal assassinado sob custódia militar em 1971, instalado na Praça Lamartine Babo. A homenagem é resultado de uma iniciativa conjunta do Senge-RJ (Sindicato dos Engenheiros do Estado do Rio) e da Comissão Estadual da Verdade.
“Esse foi um espaço marcado pela violência e pelo terror do Estado. Preservar essa memória é essencial para garantir que a história não se repita. Recentemente, vivemos uma tentativa de golpe — é preciso seguir vigilante e mobilizado”, destacou Olímpio Alves dos Santos, presidente do Senge-RJ.
O evento reuniu organizações como o Grupo Tortura Nunca Mais, MST, ABI, Levante Popular da Juventude, Frente Internacionalista dos Sem Teto, entre outras. Um dos principais focos da manifestação foi a pressão para transformar o antigo DOI-Codi em um Museu da Memória, dedicado às vítimas da ditadura.
Segundo o Iphan, o processo de tombamento histórico do imóvel é prioridade em 2025, em atendimento a uma recomendação do Ministério Público Federal que tramita desde 2013.
Para Joana Ferraz, do Grupo Tortura Nunca Mais, a memória deve ser enfrentada e preservada:
“A ditadura atravessou minha história familiar. Cresci ouvindo o silêncio sobre o que meu padrinho viveu. Era um tabu. Hoje, estudo esse tema para ajudar a dar voz a tantas histórias sufocadas.”
O arquiteto Luis Zorraquino, espanhol radicado no Brasil há quase três décadas, também marcou presença para homenagear sua companheira Estrella Bohadana, que foi presa, torturada e perdeu o bebê que esperava após sessões brutais de tortura em quartéis do Exército. Estrella morreu em 2022.
“A tortura não termina quando acaba o sofrimento físico. Ela continua pela vida inteira. A memória de Estrella e de tantos outros precisa ser respeitada. Por isso, estamos aqui”, disse Luis.
O ato reforçou o apelo por justiça, memória e verdade, para que os crimes da ditadura militar não sejam esquecidos — e jamais se repitam.