A população de favelas no Rio de Janeiro enfrenta uma “bomba invisível” de traumas e problemas de saúde, resultado das operações policiais e do controle de facções criminosas. O professor José Claudio Sousa Alves, da UFRRJ, descreve assim as consequências da violência urbana para os moradores dessas comunidades.
A recente operação nos complexos do Alemão e da Penha, que resultou em um alto número de mortos, é um exemplo dos eventos que deixam marcas profundas na saúde física e mental da população. Além das perdas de vidas, o fechamento de comércios, escolas e postos de saúde, a interdição de vias e a alteração de rotas de transporte expõem os moradores a um cenário de medo e incerteza constante.
Um estudo do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (Cesec) revelou que moradores de favelas mais expostas a tiroteios têm mais que o dobro de chances de desenvolver depressão e ansiedade, além de apresentarem maiores índices de insônia e hipertensão. Manifestações recentes demonstram a indignação da população, que se sente discriminada e desamparada pelo Estado.
Moradores como Liliane Santos Rodrigues, que perdeu o filho em meio à violência, expressam a dor e o trauma de viver em um ambiente onde a vida é constantemente ameaçada. Os complexos do Alemão e da Penha, considerados redutos de lideranças do Comando Vermelho, abrigam mais de 110 mil pessoas que sofrem diariamente as consequências da criminalidade.
A pesquisadora Carolina Grillo, da UFF, ressalta que as operações policiais, embora resultem em prisões e apreensões, não desmantelam a estrutura do Comando Vermelho, mas causam um impacto devastador nas famílias e na população local, deixando traumas permanentes.
O Comando Vermelho, facção criminosa com atuação em diversos estados brasileiros e conexões internacionais, expandiu seu controle territorial no Grande Rio, superando as milícias e controlando mais de 50% das áreas dominadas pelo crime na região. A facção não se limita ao tráfico de drogas, explorando economicamente os territórios controlados através da cobrança de serviços e taxas.
Especialistas defendem que as operações policiais não são a solução para o problema do crime organizado. Carolina Grillo destaca a importância de ações que desmantelam as estruturas financeiras das facções sem o uso da violência, como a operação Carbono Oculto.
José Claudio Sousa Alves enfatiza a necessidade de investigar o destino do dinheiro do tráfico e as estruturas que o sustentam, indo além da repressão nas comunidades. Além disso, é fundamental oferecer oportunidades de estudo, capacitação e emprego para os jovens, a fim de evitar que sejam recrutados pelo crime organizado. O programa Pronasci Juventude, do Ministério da Justiça e Segurança Pública, é um exemplo de iniciativa que busca prevenir a violência e a criminalidade através do apoio aos jovens em áreas vulneráveis.
Fonte: agenciabrasil.ebc.com.br

