No interior do Uruguai, especificamente no povoado de Tala, a cerca de 100 km de Montevidéu, a cultura intensiva da beterraba açucareira por décadas deixou um legado de contaminação no solo, nos lençóis freáticos e na saúde dos agricultores locais. Para viabilizar e manter a produção na região, empresas uruguaias e estrangeiras recorreram à aplicação massiva de agrotóxicos.
Atualmente, a beterraba não é mais cultivada na região, mas as consequências nocivas desse modelo de produção persistem na vida da população. A agricultura local depende quase que exclusivamente de irrigação artificial, uma vez que os fertilizantes químicos comprometeram a capacidade natural do solo de reter a água da chuva.
Marcelo Fossati, coordenador da Red Nacional de Semillas Nativas y Criollas, denuncia que corporações multinacionais lucraram às custas da saúde da população e da contaminação do meio ambiente. A rede coordenada por Fossati abrange mais de 250 propriedades familiares e 350 produtores distribuídos por diversos departamentos do Uruguai. O principal objetivo da instituição é resgatar e valorizar as variedades nativas ou tradicionais de sementes para a produção familiar, seja para autoconsumo ou para abastecer os mercados locais.
Fossati relata que o cultivo da beterraba açucareira exigia uma aplicação intensa de fertilizantes químicos e agrotóxicos, já que não é uma planta nativa da região e sofria com pragas e doenças. A consequência mais visível é a perda da capacidade de retenção de água no solo. Quando chove, a água escoa rapidamente, levando consigo o solo fértil para os rios, em vez de alimentar as plantas.
Além disso, o uso de agrotóxicos tem impactado a saúde da população. Pessoas que cresceram com a Revolução Verde, a partir dos anos 1960, e foram expostas a esses produtos desde a infância, têm apresentado diversos problemas de saúde, como câncer no intestino, pele e esôfago, além de problemas respiratórios. Havia a crença e a propaganda de que os agrotóxicos não eram perigosos, levando as pessoas a utilizá-los sem proteção adequada.
Um estudo realizado em escolas rurais revelou que todas as amostras de água subterrânea analisadas estavam contaminadas por agrotóxicos. Fossati aponta para empresas uruguaias que, embora mantenham nomes locais, foram adquiridas por multinacionais, como Isusa e Proquimur.
Fossati também relaciona o uso de agrotóxicos com a emergência climática. A produção desses produtos exige um enorme gasto de energia, desde a síntese química até o transporte da produção. O balanço energético é altamente negativo, contribuindo para as emissões de gases de efeito estufa.
Fonte: agenciabrasil.ebc.com.br

