A Cúpula dos Povos, evento que ocorreu paralelamente à 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), chegou ao fim neste domingo, com um forte apelo à continuidade da luta feito pelo cacique Raoni Metuktire. A liderança indígena, em sua mensagem final aos participantes, reiterou que há décadas vem alertando o mundo sobre a destruição ambiental, o desmatamento e as ameaças aos modos de vida dos povos originários e ancestrais.
“Há muito tempo, eu vinha alertando sobre o problema que, hoje, nós estamos passando, de mudanças climáticas, de guerras”, declarou Raoni.
O cacique reforçou o pedido para que todos persistam na missão de defender a vida na Terra e no planeta, e que continuem a lutar contra aqueles que desejam o mal e a destruição do meio ambiente. Raoni também aproveitou a oportunidade para criticar os conflitos e as guerras que assolam o mundo, clamando por mais amor e pela defesa da vida, para que haja respeito mútuo e paz.
Após cinco dias de intensos debates, mobilizações e manifestações em Belém, o encerramento da cúpula foi marcado por um “banquetaço” na Praça da República, com a distribuição de alimentos pelas cozinhas comunitárias e uma celebração cultural aberta ao público.
Durante o ato de encerramento, foi lida uma carta final, na qual os participantes expressaram críticas às “falsas soluções” para a emergência climática. O documento destaca a importância do internacionalismo popular, com o intercâmbio de conhecimentos e saberes, como forma de construir laços de solidariedade, lutas e cooperação entre os povos. “As verdadeiras soluções são fortalecidas por esta troca de experiências, desenvolvidas em nossos territórios e por muitas mãos. Temos o compromisso de estimular, convocar e fortalecer essas construções”, afirma o documento.
A carta foi entregue ao presidente da COP30, o embaixador André Corrêa do Lago, que se comprometeu a apresentá-la nas reuniões de alto nível da conferência, a partir desta segunda-feira. O documento ressalta ainda a centralidade do feminismo no projeto político, colocando o trabalho de reprodução da vida no centro, em oposição à lógica de um sistema econômico que prioriza o lucro e a acumulação privada de riquezas.
A carta aponta o sistema capitalista como a principal causa da crise climática, enfatizando que as comunidades periféricas são as mais afetadas pelos eventos climáticos extremos e pelo racismo ambiental. O texto também responsabiliza as empresas transnacionais, como as indústrias de mineração, energia, armas, agronegócio e as Big Techs, como as principais responsáveis pela catástrofe climática.
O documento faz diversas reivindicações, incluindo a demarcação de terras indígenas e de outros povos, a reforma agrária, o fomento à agroecologia, o fim do uso de combustíveis fósseis, o financiamento público para uma transição justa com taxação das corporações, do agronegócio e dos mais ricos, e o fim das guerras, além de cobrar maior participação dos povos na construção de soluções climáticas, reconhecendo os saberes ancestrais.
A carta também critica o avanço da extrema direita, do fascismo e das guerras, defendendo a Palestina e seu povo, e condenando os bombardeios praticados por Israel. O documento também critica a ação militar dos Estados Unidos no mar do Caribe, alegando que tais ações têm caráter imperialista e ameaçam os povos e países da região e da África.
A Cúpula dos Povos reuniu cerca de 70 mil pessoas de diversos movimentos sociais, povos originários e tradicionais, trabalhadores e comunidades, representando um amplo espectro da sociedade. O evento, que teve início no dia 12, paralelo à COP30, criticou a ausência de maior participação popular na conferência climática, apontando que países e tomadores de decisão têm apresentado soluções ineficientes, colocando em risco a meta de 1,5°C do Acordo de Paris.
A abertura da Cúpula dos Povos foi marcada por uma “barqueata” na orla de Belém, com centenas de barcos navegando pela Baía do Guajará em defesa da Amazônia e dos povos tradicionais. No dia anterior ao encerramento, cerca de 70 mil pessoas participaram da Marcha Mundial pelo Clima, uma manifestação que tomou as ruas de Belém, demonstrando a diversidade cultural e social do povo amazônico.
Fonte: agenciabrasil.ebc.com.br

