Dez anos após a primeira edição, mulheres negras de todo o Brasil convergem novamente para Brasília, unidas em uma marcha histórica pela reparação e pelo bem-viver. Militantes, ativistas, professoras, artistas, escritoras, mulheres de terreiro, anciãs, jovens, políticas, mães, irmãs e filhas se reúnem na capital federal para dar voz às suas demandas.
O evento, que promete ser um marco, carrega consigo o potencial da transformação. A frase de Angela Davis, amplamente citada entre as participantes, ecoa a força coletiva: “Quando uma mulher negra se move, toda uma nação se move”. São mulheres que marcharam em 2015 e que, dez anos depois, voltam a se encontrar nas ruas.
“O que marca é que a gente não desiste”, afirma a escritora Conceição Evaristo, às vésperas de completar 79 anos. Ela, que participou ativamente da primeira marcha, expressa sua intenção de caminhar novamente este ano. “E não sou só eu. Eu acho que as mulheres negras não desistem, determinados políticos não desistem, a juventude que, apesar da mortandade, está aí, afirmando e construindo a dignidade”, completa.
Para Conceição Evaristo, marchar representa “pisar no solo, afirmando que esse solo é seu”. E, ao marchar na capital federal, as mulheres negras reivindicam seus direitos. “Cada passo, cada pé, cada pisada que a gente dá nesse asfalto, reivindica o direito à vida e afirma que temos direito. Marchar é tomar de assalto um território que é nosso”.
Os passos da escritora vêm de longa data e sua militância tem gerado frutos. Ao relembrar os primeiros tempos de ativismo, Conceição Evaristo menciona a preocupação em formar jovens para dar continuidade à luta. “Era muito angustiante ir para reuniões e ver as mesmas pessoas. A gente tinha a impressão de que estava sendo repetitivo”, recorda.
No entanto, hoje, ela percebe o quanto essa militância foi produtiva, especialmente no âmbito cultural. “Hoje, a gente consegue ver mulheres que têm idade para serem nossas filhas, nossas netas. E sempre o nosso trabalho a partir da cultura, que é uma estratégia política que a gente usa. Quem pensa que a gente está só dançando ou cantando, é porque não prestou atenção no que dizem as nossas músicas, no que dizem os nossos corpos”, conclui.
Neste dia, Conceição e milhares de mulheres, brasileiras e estrangeiras, se unem em prol da reparação e do bem-viver.
Fonte: agenciabrasil.ebc.com.br

