Para marcar os 50 anos do assassinato do jornalista Vladimir Herzog pela ditadura militar, um ato ecumênico reuniu uma multidão na Catedral da Sé, no centro de São Paulo. A cerimônia foi promovida pela Comissão Arns e pelo Instituto Vladimir Herzog, no mesmo local onde, em 1975, ocorreu um histórico ato inter-religioso que desafiou o regime e reuniu cerca de 8 mil pessoas.
Ivo Herzog, filho de Vladimir, presente no evento, expressou a esperança de que um processo legal seja conduzido para apurar as responsabilidades pela morte de seu pai e de outras vítimas da ditadura. Ele enfatizou a necessidade de investigação das circunstâncias dos crimes, indiciamento dos autores, vivos ou mortos, julgamento e decisão do poder judiciário.
Ivo ressaltou que a revisão do parecer do Supremo Tribunal Federal (STF) em relação à Lei da Anistia de 1979 é uma luta da sociedade. Ele lembrou que a ADPF 320, que trata sobre a anistia, está nas mãos do relator, ministro Dias Toffoli, há mais de oito anos. “O Brasil tem uma tradição, desde que se tornou uma república, onde aconteceram vários golpes e ou tentativas de golpes. Todos esses eventos têm duas coisas em comum: a presença dos militares e a impunidade”, afirmou.
Para Ivo, o atraso na análise da ADPF 320 pelo ministro Toffoli representa uma “cumplicidade com essa cultura de impunidade”. O Instituto Vladimir Herzog, que participa da ADPF como amicus curiae desde 2021, defende que a atual interpretação da Lei de Anistia assegura a impunidade dos crimes de lesa-humanidade cometidos por agentes da ditadura, em desacordo com os tratados internacionais de direitos humanos dos quais o Brasil é signatário.
Ivo afirmou ainda que o tema da anistia tem sido “sequestrado pela extrema-direita”, explicando que a anistia de 1979 é uma aberração, pois o regime autoritário nunca reconheceu ter cometido crimes.
O presidente em exercício, Geraldo Alckmin, também compareceu à cerimônia e declarou que “a morte do Vladimir Herzog foi o resultado do extremismo do Estado que, ao invés de proteger os cidadãos, os perseguia e matava. Por isso, fortalecer a democracia, a justiça e a liberdade”. Questionado sobre a revisão da Lei da Anistia, ele respondeu: “Acho que já demos bons passos nessa questão”.
Ivo Herzog destacou que a presença de Alckmin reafirma o compromisso do Estado com a democracia. “Há 50 anos, quando mais de 8 mil pessoas vieram a essa catedral demonstrar sua indignação contra a barbárie que foi cometida contra o meu pai, havia muito medo, medo do Estado. Hoje, na pessoa do presidente, Geraldo Alckmin, nós temos o Estado de mãos dadas com a gente, para reafirmar o compromisso com a democracia, reafirmar o compromisso com a justiça, reafirmar o compromisso com os direitos humanos, reafirmar o compromisso com a verdade”, disse.
Vladimir Herzog foi torturado e morto nas dependências do Doi-Codi, órgão de repressão da ditadura militar, onde havia sido preso sem ordem judicial. Diretor de Jornalismo da TV Cultura na época, Herzog havia se apresentado voluntariamente ao órgão.
No dia 31 de outubro de 1975, foi realizado um ato na Catedral da Sé, um marco na resistência democrática, conduzido por líderes religiosos. Cinco décadas depois, o novo ato inter-religioso na Sé é dedicado à memória de todas as vítimas da ditadura.
Na tarde de sábado, jornalistas fizeram uma passeata desde o auditório Vladimir Herzog, na sede do sindicato da categoria em São Paulo (SJPSP), até a Sé para participar do evento na catedral.
A cerimônia contou com a apresentação do Coro Luther King, manifestações inter-religiosas e a exibição de vídeos com imagens de manifestações e de vítimas do Estado desde a ditadura militar até os dias atuais. Um dos vídeos apresentou a leitura de uma carta de Zora Herzog, mãe de Vlado, feita pela atriz Fernanda Montenegro.
Fonte: agenciabrasil.ebc.com.br

