Em Belém, indígenas da etnia Munduruku realizaram um protesto na manhã desta sexta-feira, marcando o quinto dia da Cúpula das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30). O grupo, composto por cerca de 90 pessoas, incluindo mulheres, caciques, jovens e crianças, ocupou a área externa de acesso à Zona Azul, espaço reservado para negociadores e participantes credenciados no evento.
O protesto, que começou por volta das 5h40, foi acompanhado de perto por soldados do Exército que reforçaram a segurança no local. A manifestação transcorreu de forma pacífica, com o apoio de ativistas e indígenas de outras nacionalidades. Os Munduruku reivindicavam uma reunião com o presidente Lula, que se encontra em Brasília.
Uma das manifestantes expressou sua frustração: “Exigimos nosso direito aqui. Exigimos a presença do presidente Lula. Mas infelizmente, a gente não consegue, como sempre. Sempre somos barrados, nunca fomos ouvidos”.
A principal demanda dos indígenas é a revogação do Decreto nº 12.600/2025, que trata da privatização de empreendimentos públicos federais no setor hidroviário. Segundo o Movimento Munduruku Ipereg Ayu, o corredor Tapajós-Arco Norte é um dos principais vetores do avanço do agronegócio sobre a Amazônia, conforme dados do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc).
Os manifestantes também protestaram contra as negociações climáticas internacionais, que, segundo eles, consideram as matas nativas como meros ativos de crédito de carbono. Cartazes com frases como “Nossa floresta não está à venda” e “Não negociamos a Mãe Natureza” refletiam a posição do grupo.
“A COP não fala por nós. A COP fala pelo interesse dos países e empresas destruidoras”, afirmou outra manifestante, criticando a falta de atenção dada às necessidades da população local e a suposta defesa dos territórios e da Amazônia.
Além disso, os Munduruku cobram a retirada imediata de invasores de suas terras e o fim do Marco Temporal, lei que limita o direito dos povos originários às terras que ocupavam na data da promulgação da Constituição Federal, em 1988.
Durante o protesto, um grupo de participantes da COP30 formou um “cordão humano” para proteger os indígenas. A movimentação inicialmente impediu a entrada dos participantes na conferência, mas um acesso alternativo foi aberto.
O presidente da COP30, André Corrêa do Lago, compareceu ao local para dialogar com os manifestantes. O advogado Marco Apolo Santana, da Associação Wakoborun, acompanhou as conversas em representação aos indígenas. “Elas se sentem excluídas. Parece que os governantes só ouvem quando o pessoal consegue fazer alguma manifestação”, declarou Santana.
O acesso principal à Zona Azul foi liberado após uma reunião entre o presidente da COP30, os Munduruku e as ministras do Meio Ambiente, Marina Silva, e dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara. O povo Munduruku vive principalmente na bacia do Rio Tapajós, na região oeste do Pará.
Fonte: agenciabrasil.ebc.com.br

