Dez candidatas negras que concorreram a cargos políticos em 2024 compartilham suas experiências em um novo livro, explorando os sucessos replicáveis e as dificuldades encontradas ao longo do processo eleitoral. As participantes relatam os desafios enfrentados tanto dentro dos partidos políticos quanto após as eleições, muitas vezes tendo que recorrer a recursos financeiros próprios.
Andreia de Lima, Ayra Dias, Bárbara Bombom, Camila Moradia, Dani Nunes, Débora Amorim, Flávia Hellen, Joelma Andrade, Lana Larrá e Mayara Batista são as autoras de “Rosas da Resistência: trajetórias e aprendizados de mulheres negras não eleitas”. O lançamento do livro está previsto para o dia 22, em Brasília, com o apoio do Instituto Marielle Franco (IMF) e da Fundação Rosa Luxemburgo.
Segundo Dandara de Paula, gerente de programas do IMF, um traço comum entre as mulheres é a forte ligação com seus territórios e comunidades, onde são reconhecidas como lideranças locais. Essa conexão histórica, anterior à eleição, permitiu que desenvolvessem propostas alinhadas com as necessidades da população que representam.
A não eleição, no entanto, não as afastou de suas bases. Elas encontraram apoio e acolhimento nas comunidades onde são figuras constantes e relevantes.
Outro ponto em comum relatado pelas candidatas é a dificuldade em obter apoio dos partidos políticos e acessar o fundo eleitoral, principal fonte de financiamento de campanhas após a proibição de doações de empresas. A falta de acesso igualitário a esses recursos foi um obstáculo para todas, com relatos de atrasos, divergências internas e dificuldades com as legendas.
Um relatório de 2024 apontou que mulheres negras enfrentam mais barreiras para ocupar cargos políticos. Apesar de representarem a maior parte da população brasileira, com cerca de 60 milhões de pessoas, apenas 7,19% das candidatas negras foram eleitas, em comparação com uma a cada dez candidatas brancas.
As mulheres negras são também a maior parcela da população ativa do país e chefiam a maioria das famílias, mas ainda enfrentam desigualdades salariais, representando apenas 16% do rendimento total do país.
Dandara de Paula ressalta a importância de aumentar a representatividade de mulheres negras na política. A ocupação de cargos políticos permite concretizar os desejos e necessidades da população, exercendo poder e influência nas decisões.
Após as eleições, as dez mulheres que participaram do livro receberam apoio financeiro do IMF, um recurso essencial para se reestruturarem após as campanhas. Todas aderiram à agenda Marielle Franco, um conjunto de práticas e compromissos políticos antirracistas, feministas, LGBTQIAPN+, periféricas e populares, inspirados no legado da vereadora assassinada em 2018.
O lançamento do livro coincide com a Marcha Mundial das Mulheres Negras, reunindo mulheres de todo o país em prol de reparação e bem-estar. O evento de lançamento será realizado na Casa Comum, na Asa Norte.
Fonte: agenciabrasil.ebc.com.br

