Caminhar pelas ruas do centro histórico do Recife revela uma surpreendente coexistência: casarões do século XVII abrigando escritórios modernos, equipados com tecnologia de ponta e ocupados por equipes desenvolvendo algoritmos para logística, segurança da informação, games e inteligência artificial.
Essa região pulsante abriga o Porto Digital, um dos principais polos de inovação tecnológica do Brasil. Composto por 475 empresas, desde startups promissoras até multinacionais consolidadas, o parque tecnológico gera mais de 21 mil empregos.
Empresas de grande porte como Accenture, Deloitte, NTT Data (japonesa) e Capgemini (francesa) estabeleceram-se nesse quadrilátero de 30 hectares, transformando o centro da capital pernambucana.
Eduardo Peixoto, engenheiro elétrico, recorda o cenário desafiador para profissionais de tecnologia em Pernambuco no final do século XX: “Quando me formei, não havia nada. A fuga de talentos era enorme. Eu mesmo fui para São Paulo e depois para Genebra.” Peixoto retornou a Recife em 2002, no início do projeto Porto Digital. “O objetivo era criar uma economia para reter e trazer de volta as pessoas que estavam indo para São Paulo, China, Nova York. Se havia uma chance de dar certo, eu tinha que ajudar”, diz ele, que desde 2022 lidera o CESAR.
Pierre Lucena, presidente do Porto Digital, destaca a forte ligação com a educação: “Temos 4,5 mil alunos em três universidades, em cursos rápidos com residência nas empresas, aproximando os alunos das demandas do mercado.” Em 2024, Recife formou 1,4 mil profissionais na área de tecnologia, um número expressivo em comparação com os 2 mil formados em São Paulo.
Silvio Meira, professor emérito da UFPE e um dos criadores do Porto Digital, ressalta que “cada uma dessas grandes empresas que chegam é também um grande formador de capital humano, uma grande escola. Elas trazem métodos, processos, métricas, técnicas e plataformas, criando um ciclo virtuoso de aprendizado que beneficia tanto as pessoas quanto as empresas.”
Apesar do sucesso, Peixoto defende ajustes na política de incentivos fiscais concedidos às empresas instaladas no Porto Digital. Atualmente, a prefeitura de Recife renuncia a 60% do ISS (Imposto Sobre Serviço), cobrando uma alíquota de 2% em vez de 5%. Peixoto questiona a ausência de contrapartidas: “Por que não pegar um pedacinho, 0,5%, desse negócio e reinvestir em educação? Quase todo incentivo público para inovação tem uma contrapartida. Acho que é isso que falta nessa política pública.”
Em 2024, o faturamento das empresas do Porto Digital alcançou R$ 6,2 bilhões. Mesmo com a renúncia fiscal, o polo tecnológico representa a terceira maior fonte de receita para a capital pernambucana. O valor exato da renúncia fiscal não foi divulgado pela prefeitura de Recife.
O Rec’n’Play, festival de tecnologia, transforma a região do Porto Digital, com atividades em diversos espaços, palcos e estandes. A expectativa é que o evento atraia mais de 90 mil pessoas.
Fonte: agenciabrasil.ebc.com.br