Em resposta à recente operação no Rio de Janeiro, que resultou em pelo menos 121 mortes nos complexos do Alemão e da Penha, sete governadores anunciaram a formação do “Consórcio da Paz”. O projeto ambiciona integrar estados por meio do compartilhamento de informações de inteligência, apoio financeiro e contingente policial para combater o crime organizado.
A iniciativa foi formalizada durante uma reunião no Palácio Guanabara, sede do governo fluminense, e contou com a presença dos governadores Cláudio Castro (Rio de Janeiro), Romeu Zema (Minas Gerais), Jorginho Mello (Santa Catarina), Eduardo Riedel (Mato Grosso do Sul) e Ronaldo Caiado (Goiás), além da vice-governadora do Distrito Federal, Celina Leão. O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, participou virtualmente.
O Rio de Janeiro sediará inicialmente o consórcio, encarregando-se da organização e formalização do grupo. Segundo Castro, a prioridade é trocar estratégias eficazes no combate ao crime. A proposta, embora liderada por governadores com alinhamento político, busca integrar todas as 27 unidades federativas. O objetivo é promover o intercâmbio de experiências, recursos humanos e materiais, além da aquisição conjunta de equipamentos.
Os governadores presentes também elogiaram a operação policial nos complexos da Penha e do Alemão, com o governador de Minas Gerais, Romeu Zema, classificando-a como “a mais bem-sucedida”. A operação resultou na apreensão de 93 fuzis, mas também causou caos na cidade, com interdição de vias e não conseguiu capturar o principal alvo, Edgar Alves de Andrade, conhecido como Doca, apontado como chefe da facção criminosa Comando Vermelho.
Em contraponto, especialistas em segurança pública ressaltam que o crime organizado possui raízes complexas, envolvendo redes econômicas e sociais extensas, e que operações isoladas não são suficientes para desmantelá-lo. Organizações da sociedade civil e movimentos sociais têm criticado a letalidade policial e o desrespeito aos moradores das comunidades.
Os governadores enfatizaram que o consórcio busca ações práticas, evitando a “politização” da segurança pública. Contudo, manifestaram críticas à Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Segurança Pública, enviada pelo governo federal ao Congresso, que visa dar status constitucional ao Sistema Único de Segurança Pública (SUSP) e integrar as forças de segurança em todo o país.
Ronaldo Caiado, governador de Goiás, alegou que a PEC visa retirar dos governadores a autonomia sobre as diretrizes da segurança pública, transferindo-a para o Ministério da Justiça, o que configuraria uma intervenção direta nas polícias estaduais. O governo federal, por sua vez, argumenta que a PEC preserva a autonomia das forças de segurança estaduais e distrital.
Recentemente, o ministro da Justiça e da Segurança Pública e o governador do Rio de Janeiro anunciaram a criação de um escritório emergencial para enfrentar o crime organizado no estado, buscando maior integração entre as esferas federal e estadual. O governo federal também anunciou o aumento do efetivo da Polícia Rodoviária Federal e de agentes de inteligência no Rio, além do envio de peritos, e autorizou a transferência de dez presos para presídios federais.
Fonte: agenciabrasil.ebc.com.br

