Centenas de líderes extrativistas de diversos biomas brasileiros marcharam pelas ruas de Belém na tarde de quinta-feira, defendendo seus direitos territoriais e o papel das reservas de uso sustentável no equilíbrio ecológico. A marcha, batizada de “Porongaço dos Povos da Floresta”, reuniu seringueiros, castanheiros, ribeirinhos, pescadores artesanais, quebradeiras de coco e outras comunidades tradicionais.
O ato iluminou as ruas da capital paraense com as chamas das porongas, lamparinas tradicionalmente usadas por seringueiros nas trilhas da floresta, um símbolo histórico do Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS). A caminhada ocorreu paralelamente às negociações da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), em andamento em Belém.
Liderado por Chico Mendes nos seringais do Acre, o movimento extrativista ganhou voz e articulação política na década de 1970, confrontando a violência, a grilagem e a destruição ambiental.
Letícia Moraes, vice-presidente do CNS, enfatizou a conexão das comunidades extrativistas com o território: “Nós, populações extrativistas, compreendemos o território como extensão dos nossos corpos. Então, se a floresta não está bem, se os rios não estão bem, se o maretório [área costeira] não está bem, nós não estamos bem”. Ela ressaltou que os territórios sob os cuidados das comunidades tradicionais são os que mantêm a floresta viva, destacando a relação de pertencimento e cuidado desses povos com a terra.
Dados do CNS indicam que as reservas e projetos de assentamento agroextrativistas protegem mais de 42 milhões de hectares de florestas e rios, representando 5% do território nacional. Estima-se que essas áreas armazenem aproximadamente 25,5 bilhões de toneladas de CO2 equivalente, cerca de 11 anos das emissões totais do Brasil.
Na COP30, o líder extrativista Joaquim Belo atua como enviado especial, buscando incluir os serviços ecossistêmicos prestados pelas comunidades como metas de mitigação das mudanças climáticas. “Nós somos solução para diversos problemas das mudanças climáticas, porque nós cuidamos da floresta e ela tem esse papel no equilíbrio climático”, afirmou Belo.
Ao final da marcha, um documento do CNS foi entregue à ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, contendo uma série de demandas. O principal foco é o reconhecimento formal das reservas extrativistas, reservas de desenvolvimento sustentável e demais territórios tradicionais na Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) brasileira e nos tratados climáticos, reconhecendo sua contribuição para a redução do desmatamento, a manutenção da vegetação nativa e a conservação de estoques de carbono.
O documento também reivindica prioridade para esses territórios em políticas de adaptação e mitigação, com investimentos consistentes e permanentes, recursos públicos e privados para proteção territorial, gestão comunitária, vigilância e incentivos a práticas sustentáveis de uso da floresta.
Marina Silva, ex-seringueira no Acre, destacou o papel das comunidades como guardiões da floresta, ressaltando que seu modo de vida protege a floresta, a biodiversidade, sequestra carbono e mantém a cultura, a diversidade e a beleza do planeta. Ela enfatizou a necessidade de ampliar as políticas públicas para apoiar essas comunidades.
Fonte: agenciabrasil.ebc.com.br

